"Essa é a minha opinião, é isso que importa."
"Ninguém está certo nem errado, só temos opiniões diferentes."
Já repararam que somente pessoas que não se abrem a novas perspectivas e possuem pouca inteligência emocional e autoconhecimento usam esse argumento no exato momento em que lhes faltam argumentos racionais para continuar defendendo a "opinião própria"?
Somente quem escolhe ignorar o conhecimento e suas próprias limitações não percebe a diferença entre a "opinião própria" e a opinião baseada em conhecimento.
Uma opinião baseada em conhecimento não se define por "gosto particular", "necessidade de reafirmação" ou "aceitação", mas pela realidade, pela curiosidade em aprender, pelas experiências próprias e dos outros, pela História, pela Ciência e pela análise conjunta de inúmeros fatores para se solidificar.
Não se forma da noite para o dia, e muitas vezes contradiz o que a pessoa costumava acreditar em outra época da vida.
Na realidade, não pode nem ser chamada de "opinião" se for analisada a fundo: é uma PERCEPÇÃO, que percorreu um longo caminho até se consolidar, normalmente passou por alguma resistência pessoal para ser aceita e só a partir daí passou a fazer parte do repertório de conhecimento e sabedoria adquiridos por aquele indivíduo.
Uma percepção normalmente é muito consistente, dificilmente muda da noite para o dia e somente se modifica quando uma nova experiência pessoal ou um novo conhecimento adquirido provam o contrário.
O que é absolutamente diferente de uma "opinião pessoal" (o próprio nome diz, "pessoal"), que frequentemente acaba sendo uma opinião "que vive mudando de opinião", não possui bases sólidas na racionalidade e se origina exclusivamente das emoções do indivíduo, desconsiderando qualquer aspecto da vida real que não esteja centrado em si mesmo.
É realmente uma armadilha, na qual a pessoa se prende por vontade própria para não contrariar suas próprias emoções, e que a mantém alheia à realidade, às experiências de vida das demais pessoas, a todo o conhecimento que existe no planeta e à própria história da humanidade.
Além disso, se observarmos mais a fundo, a "opinião pessoal" de um indivíduo normalmente nem tem origem pessoal: na maioria absoluta dos casos, sempre tem uma origem externa, alheia à própria pessoa.
Pode ser influenciada pelo grupinho que falou que era legal ter tal opinião, pela modinha do momento que ditou aquela opinião, pelos familiares que compartilham da mesma opinião, por alguém poderoso que manipulou aquela opinião, pela imitação da opinião do "ídolo" que o indivíduo colocou num patamar acima da humanidade, enfim, por diversas razões.
Mas, em nenhum desses casos realmente houve algum senso crítico e curiosidade para buscar um conhecimento diferente ou mais profundamente verdadeiro sobre a origem de tal opinião e, quem sabe, contestá-la.
"De onde veio esta opinião, e com base em quê eu estou defendendo isto?" são as perguntas essenciais que quase ninguém faz a si mesmo.
E simplesmente não o fazem por um motivo simples: é difícil encarar a si mesmo profundamente em sua própria individualidade, cheia de fraquezas e de fantasmas, cair e levantar desta luta interior para enfim formar uma percepção própria das coisas, ainda que falha.
É dolorido fazer isso.
É solitário fazer isso.
Exige coragem.
Exige maturidade.
Exige racionalidade.
Já emitir uma opinião pessoal é muito fácil, pois se baseia num só princípio: ignorar todos os fatos, todo o conhecimento existente e todas as evidências contrárias com o objetivo de manter intacto o autocentrismo e a "opinião própria", que na realidade nem é tão própria assim, como já exemplificado anteriormente: as "opiniões pessoais" massificadas são o que há de mais comum no mundo moderno.
Vide os estilos musicais que estão na moda, as roupas e acessórios do momento, os assuntos da moda, os "influencers" da moda, os que tentam a todo custo chamar a atenção por comportamentos bizarros e de autodestruição, os que se vitimizam, os que tentam ser "diferentões" pregando o "estilo próprio" num esforço gigantesco para não serem considerados uma "pessoa comum", mas que se comportam exatamente da mesma forma que o grupo em que estão inseridos.
Todas as pessoas que fazem o que os outros estão fazendo, falam o que os outros estão falando, se vestem como os outros estão se vestindo e se comportam como os outros estão se comportando sem realizar questionamentos internos a respeito das opiniões e comportamentos da "tribo" normalmente possuem um repertório de autoconhecimento bastante limitado, e muito pouca percepção a respeito das coisas.
E, não obstante, cada um dos milhões cuja "opinião própria" é uma mera réplica da opinião do grupo acredita piamente que está pensando por si próprio e emitindo "opiniões próprias".
E por que só pessoas de autoconhecimento limitado vivem tão arraigadas em sua "opinião própria", e dando opinião nas redes sociais o dia todo, criticando tudo e todos em relação aos mais diversos assuntos?
Enxergo duas hipóteses:
Para não ficarem de fora do que está acontecendo, e por não saberem absolutamente nada sobre o assunto em pauta, desvirtuam a situação para o viés da "opinião própria" por absoluta falta de repertório e pela incapacidade de elaborarem uma argumentação estruturada em relação ao que está sendo falado ou mostrado. Nesse caso, a "opinião própria" normalmente se apresenta na forma de xingamentos e críticas ao que os outros estão fazendo, os chamados "haters";
Por acreditarem que sabem muito mais do que realmente sabem sobre o assunto em pauta, a arrogância e o egocentrismo exacerbados não permitem que admitam (ou percebam) que sua "opinião" é bastante rasa quando analisada de forma realista por alguém que realmente conhece o assunto. Nesse caso, a "opinião própria" normalmente se apresenta de maneira extremamente pueril e bastante desconexa, e a pessoa que a expressa é incapaz de fazer uma conexão de ideias claras em sua argumentação para defendê-la de forma coerente.
Obviamente, a opinião das pessoas é livre e a liberdade de opinião deve ser sempre defendida, independentemente de qual seja ela.
Mas nem por isso devemos cultuar a ignorância, a ofensa gratuita, a soberba e a incapacidade de raciocínio através do endeusamento de "opiniões" que se mostrem vazias.
Tal comportamento é extremamente prejudicial e perigoso quando analisado pela perspectiva do crescimento pessoal, da evolução intelectual e da disseminação do conhecimento humano, construído ao longo de tantos séculos.
Por isso, se você baseia a sua opinião ignorando o que a ciência ou a história já comprovaram, e ainda assim prefere defender a sua "opinião própria" porque acredita ser mais sábio do que as evidências comprovadas pelo conhecimento combinado de filósofos, economistas, administradores, cientistas e estudiosos em geral, fique à vontade.
Mas saiba que defender com unhas e dentes a "sua opinião" apenas demonstrará aos seus interlocutores a sua imaturidade e sua falta de capacidade para analisar a vida e a realidade de uma forma que ultrapasse o seu próprio umbigo.
Caso você seja um desses, e não esteja aberto em hipótese alguma a estudar um pouco para conseguir abrir mão de suas "opiniões pessoais" para se esquivar de novos conhecimentos, fica o conselho: ao invés de sair pregando "achismos" aos quatro ventos com sua "opinião própria", ao menos compreenda que estará limitando o seu próprio desenvolvimento pessoal.
E como última dica, busque se preservar, ouça mais e fale menos e guarde sua opinião sem fundamento para você mesmo quando achar que deve dispará-la como ofensas gratuitas por aí.
E se for isso mesmo que deseja para sua vida, seja feliz com sua "opinião própria", que provavelmente não te levará a lugar algum.
"Tal qual urubus e águias, assim são a ignorância e a sabedoria. A ignorância vive em bandos. A jornada da sabedoria é solitária. E enquanto uma se alimenta de restos do chão, a outra te faz voar alto e enxergar longe..." (Milene Reis)
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